segunda-feira, 13 de junho de 2011

O sufixo "proibido"

Embora utilizada na literatura e dicionarizada há mais de um século, a lenta e gradual assunção de mulheres a certos cargos profissionais ou políticos tornou a palavra presidenta muito pouco conhecida. A pouca produtividade do sufixo -nta no português, variante do sufixo -nte, pode proporcionar estranheza nas formações de feminino com essa terminação. Não importa: a palavra tem uso comprovado em documentos oficiais e artigos jornalísticos de épocas diversas até hoje e, por mais resistência que exista à sua aceitação, encontra amplo amparo na gramática tradicional. Por que diabos, então, há quem diga que presidenta é errado?

Etimologia

A terminação -nte é um sufixo originário do latim –ns, -ntis, desinência do particípio presente que, na língua portuguesa, resultou em adjetivos ou substantivos deverbais (formados a partir de verbos) com a noção de ‘agente’, como em assaltante, ouvinte, servente.
Por si só, esse particípio presente não vingou na língua portuguesa, tendo se mantido apenas no francês e no italiano. Em O Português Arcaico (2006), a linguista Rosa Mattos e Silva observa que, embora o particípio presente ainda pudesse apresentar remanescentes verbais no período arcaico, apenas se fixou no português contemporâneo “como adjetivo, substantivo ou em outras classes de palavras (presente, constante, tirante, durante etc)” (p. 121).
No artigo Flexão Verbal do Português, O filólogo Joseph Maria Piel esclarece o desaparecimento dessa forma nominal de verbo: “Tendo o gerúndio pouco a pouco assumido, em português, as funções verbais do particípio, não admira a ausência desta última categoria no quadro moderno da conjugação portuguesa.” Como exemplo, o autor cita uma obra em que as formas estante, dizente, dorminte, em sua versão mais antiga em português, mudaram posteriormente, a partir do século XV, para estando, dizendo, dormindo.
O autor também observa que

é natural que a língua não eliminasse simultaneamente todos os particípios em -ante, -ente, -inte [...]. Constituem reminiscências do particípio as formas invariáveis, equivalentes a preposições, salvante, tirante, passante [...]. Abstraindo destes casos, os particípios tornaram-se adjetivos: semelhante, doente, ou substantivos: figurante, tenente, pedinte [...] (p. 220).

Por isso, no português contemporâneo, esse particípio latino ainda é reclamado como fator remoto da (relativa) uniformidade dos adjetivos (e substantivos) terminados em –nte em português. Isso mesmo: relativa. Como veremos a seguir, essa tal uniformidade é ilusória.

A variação de -nte para -nta na história do português

Os estudos da linguista Rosa Virgínia Mattos e Silva (2006) constataram que “no Cancioneiro Medieval Português aparecem sergente: sergenta e o sinônimo servente: serventa (‘servo’); [...] no Orto do Esposodos fins do século XIV, aparecem servente, sergente, mas também sergenta” (p. 103-104).
Para exemplificar as variações da terminação -nte com outras palavras do português arcaico em uso até hoje, podemos citar infanta[1] e parenta, substantivos surgidos no século XIII conforme o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (2010); giganta, publicado num romance de cavalaria em 1522, conforme Barros (1743); posteriormente, num período mais moderno da língua, teremos elefanta, registrado no século XVIII no Diccionario da Lingua Portugueza (SILVA, 1789); presidenta, introduzido no idioma por meio de Antônio Feliciano de Castilho em 1872, conforme a primeira edição do Dicionário Caldas Aulete (1881); e governanta, originado em 1881 por influência do feminino do francês gouvernante (HOUAISS, 2001). Entre os casos que não se consolidaram na língua, Said Ali (1964) cita, em Gramática Histórica da Língua Portuguesa, as palavras comedianta e farsanta, utilizadas na literatura do período quinhentista e seiscentista (p. 62).

O uso

Apesar do registro histórico dos vocábulos supracitados, a variante feminina do sufixo -nte sempre teve baixa produtividade morfológica em nossa língua. De fato, trata-se de um uso irregular, esporádico e imprevisível na formação de palavras.
A baixa frequência da terminação -nta na formação de substantivos femininos é certamente a causa do estranhamento de parte dos usuários da língua ao ler e ouvir essas formas. No caso de presidenta, o contexto histórico e político de tempos passados, que só lenta e gradualmente permitiu a ascensão de mulheres a cargos de direção ou eletivos, não proporcionou muitas oportunidades para o uso do termo. Eis o motivo pelo qual o gramático Celso Cunha constatou, em sua Gramática Moderna (edição de 1970, obra fora de catálogo e anterior à Nova Gramática do Português Contemporâneo, em parceria com Lindley Cintra), que presidenta “se trata de feminino ainda com curso restrito no idioma, pelo menos no Brasil” (p. 96).
De qualquer forma, isso nunca impediu que a palavra presidenta já fosse há muito utilizada, fosse na literatura ou em alguns gêneros textuais, para se referir a mulher que presidisse uma empresa ou um chefiasse um tribunal jurídico, conforme veremos comprovadamente a seguir.
O registro impresso mais antigo da palavra obtido até agora encontra-se na tradução da obra As Sabichonas (Les Femmes Savantes), do dramaturgo francês Molière, por meio do escritor português Antonio Feliciano de Castilho, em 1872: “Mais gratidão lhe devo, immortal presidenta” (p. 128); “À nossa presidenta, e às minhas sócias, peço se dignem perdoar-me o intempestivo excesso” (p. 153); “Nada, nada! Escusa, presidenta, de insistir mais” (p. 230).
O primeiro escritor brasileiro a usar "presidenta" (1881)
Anos depois, no Brasil, Machado de Assis utilizaria o vocábulo em Memórias Póstumas de Brás Cubas (publicada pela primeira vez em 1881): “Na verdade, um presidente, uma presidenta, um secretário, era resolver as cousas de um modo administrativo”.
No âmbito jornalístico, constam incontáveis registros do uso do termo, conforme pode ser constatado por meio das ferramentas de buscas dos sites de jornais. O Correio Braziliense possui, em um de seus registros virtuais, texto com o seguinte trecho: “Já confirmaram presença no vernissage o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, e a presidenta do Ibama, Marília Marreco Cerqueira” (1999). Em outra edição, consta: “Ciclo de palestras com a participação da Dra. Ruth Cardoso, presidenta do Conselho do Comunidade Solidária” (1999). Em mais outra edição, temos: “A presidenta do Sindicato dos Comerciários, Geralda Godinho, diz que a categoria é a favor do novo horário” (2002).
Consultando o site de O Estado de S. Paulopodemos encontrar, entre mais de setecentos registros: “Coordenada pela presidenta da Sociedade Brasileira de Arqueologia, Tania Andrade, a mostra permanecerá aberta ao público até o próximo dia 30 de julho.” (2000).
No site da Folha de S. Paulo – jornal que anunciou a utilização exclusiva de presidente[2] para se referir à Dilma Roussef – encontra-se arquivos de edições anteriores com centenas de registros contrariando o tão defendido substantivo de dois gêneros, como este: “[...] Sílvia Passarelli, empresária e presidenta da construtora Passarelli [...]” (1994). Em outra ocorrência, temos: “A presidenta do partido conservador oposicionista CDU (União Democrata-Cristã), Angela Merkel [...]” (2000). É curioso como um jornal faz questão de negar sua própria história, não?
No âmbito do Poder Judiciário, o vocábulo pode ser observado em documentos oficiais. Em Ata de Sessão Solene realizada no Superior Tribunal de Justiça, datada de 1989, consta: “(...) à Desembargadora Maria Tereza Braga, Presidenta do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (...)”. No site do Superior Tribunal de Justiça (STJ), encontram-se vários registros como este:A juíza Sandra de Santis, então presidenta do Tribunal de Júri, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, desclassificou a imputação de crime doloso, passando-a para lesão corporal seguida de morte” (1999).
Não é de se estranhar, portanto, que a linguista Maria Helena de Moura Neves tenha registrado em seu Guia de Usos do Português (2003): “usa-se a forma presidente tanto para homem quanto para mulher. [...] Também é usual, entretanto, a forma regular de feminino, presidenta. >> 'Afinal, era dar ou não dar a renúncia da presidenta da Argentina' (Nos Bastidores da Notícia, de Alexandre Garcia)" (p. 620).
No que se refere ao uso, portanto, comprova-se, em vários meios e épocas, o hábito de se escrever esse feminino, cujas ocorrências tornaram-se mais frequentes na medida em que as mulheres passaram a assumir cargos de presidência.

Normalização gramatical

Em seu Dicionário de Masculinos e Femininos, Aldo Canazio (1960) registra presidenta como feminino de presidente (ao lado de [a] presidente como substantivo de dois gêneros).
Desde sua 1ª edição (1963), a Moderna Gramática Portuguesa de Evanildo Bechara já registrava e abonava essa forma feminina:

Podemos distinguir, na manifestação do feminino, os seguintes processos [...] com a mudança ou acréscimo ao radical, suprimindo a vogal temática [...] Os [terminados] em –e uns há que ficam invariáveis, outros acrescentam –a depois de suprir a vogal temática: alfaiate à alfaiat(e) + a à alfaiata.

Variam:

alfaiate – alfaiata
infante – infanta
governante – governanta
presidente – presidenta
parente – parenta
monge – monja
(p. 84, grifo nosso)

Celso Pedro Luft, em seu Dicionário Gramatical da Língua Portuguesa (1966), ensina que “os substantivos terminados em e são geralmente uniformes (…); há, porém, alguns que trocam o e por a: elefante – elefanta; governante – governanta; infante – infanta;[...] ; parente – parenta; mais raros: [...] giganta; hóspeda; presidenta; alfaiata. Em ABC da Língua Culta, o autor reafirma: “[...] substantivo que se pode tomar como comum de dois gêneros (sexo) para ‘pessoa que preside’: o presidente, a presidente; mas também comporta feminização flexional: a presidenta”.
Rocha Lima (2007), em sua Gramática Normativa da Língua Portuguesa, reconhece: “a força do uso já consagrou as formas flexionadas infanta, parenta e presidenta” (p. 73).
Cegalla (2008) diz o seguinte em seu Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa: “É forma dicionarizada e correta, ao lado de presidente. A presidenta da Nicarágua fez um pronunciamento à Nação. / A presidente das Filipinas pediu o apoio o apoio do povo para o seu governo (p. 336).
Sacconi (2005), em seu Dicionário de Dúvidas, Dificuldades e Curiosidades da Língua Portuguesa, também informa a correção da forma "presidenta".
Finalmente, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (2009), que registra todas as palavras em uso oficial na língua portuguesa,  legitima a palavra (p. 674).
Napoleão Mendes de Almeida parece ser o único gramático de relevância a recusar a forma presidenta. Em seu Dicionário de Questões Vernáculas, sentencia:

São em português uniformes os adjetivos terminados em nte, como já no latim havia uma só terminação – ns – para o masculino e feminino dos adjetivos da segunda classe, por cujo paradigma se declinavam os particípios presentes: prudente, amante, vidente, lente, ouvinte. [...] Alguns dos adjetivos de tal terminação andam a ser flexionados em nta no feminino quando substantivados: parenta, infanta, governanta. Presidenta, porém, ainda está, ao que parece, no âmbito familiar e chega a trazer certo quê de pejorativo (p. 244).

De onde vem essa obsessão napoleônica de quase sempre fazer analogias de questões da língua portuguesa com o seu caso correspondente em latim? Conforme Marcos Bagno (1999) bem observou, “as explicações de Napoleão se baseiam exclusivamente em comparações com o latim e o grego, [...] desconsiderando sistematicamente todas as contribuições da ciência lingüística moderna” (p 80). De fato, a única justificativa dada por Napoleão para condenar a variação do vocábulo presidente é vinculá-la obrigatoriamente à sua uniformidade latina original. Ora, o fato de os adjetivos terminados em -nte serem, “como já no latim”, uniformes em nada justifica ou obriga, necessariamente (como já constatamos), a preservação de tal uniformidade numa língua neolatina.
Vale observar o que diz a Gramática comparativa Houaiss: quatro línguas românicas (2010), ao mostrar o quanto as línguas derivadas do latim comportaram-se de modo peculiar/intrínseco e divergiram em suas formações de gênero:

Há nomes e adjetivos em -a e em -e que podem ser uniformes quanto ao gênero [...] há palavras terminadas em -e que em português, espanhol e italiano são uniformes para o masculino e o feminino, mas que em francês apresentam uma diferença entre a forma masculina e a forma feminina. [...] no que diz respeito aos adjetivos, o italiano permaneceu fiel à terminação e- do latim; o português e o espanhol conservaram-na em palavras como grande ou abandonaram-na em casos como cruel, fácil, cortês e jovem/joven. Estas duas línguas adotaram a desinência -a para formar o feminino de alguns adjetivos que etimologicamente pertenciam ao grupo dos uniformes” (p. 98, grifo nosso).

Mais adiante, no item oportunamente intitulado “O caso particular dos nomes de profissões”, temos:

Numerosas profissões reservadas no passado aos homens são atualmente acessíveis às mulheres. As línguas comportam-se de maneira diferente em relação a esta nova realidade. Tal como o português, o espanhol e o italiano possuem em geral formas no masculino e no feminino para os nomes de profissões: profesor/profesora (espanhol), professore/professoressa (italiano); escritor/escritora (espanhol), scrittore/scrittrice (italiano).
Em italiano, os vocábulos com o sufixo –essa para o feminino de certas profissões ou são antigos, como studentessa, professoressa, ou então foram criados mais recentemente, como deputadessa, avvocatessa (sendo avvocata mais freqüente), ministressa (forma rara). Muitas vezes continua a usar-se a unicamente a forma masculina para homem ou mulher: il deputato, l’avvocato, il ministro.
Em francês, os femininos introduzidos há muito tempo na língua não levantam problemas: boulanger/boulangère, directeur/directrice, vendeur/vendeuse; pelo contrário, há numerosos outros nomes para os quais não existem femininos e que por isso exprimem só a função e não a pessoa: professeur, tailleur, peintre, juge, écrivain, médecin, guide, témoin. Assim, diz-se: Madame Durand, professeur, Madame le professeur (p. 99, grifo nosso).

Como se vê, no que diz respeito à formação de gênero no feminino, cada língua neolatina desenvolveu flexões (ou derivações) distintamente, de acordo com suas respectivas peculiaridades, não seguindo necessariamente a lógica da estrutura vigente no latim. Não há, portanto, por que condenar no português a realização de uma determinada flexão (nesse caso, eu diria derivação) tendo como justificativa uma lógica determinista (nesse caso, a uniformidade dos adjetivos latinos terminados em -nte) que vigorava incondicionalmente FORA do português, numa língua hoje morta.
Voltando ao Napoleão, ao afirmar que “[...] presidenta, porém, ainda está, ao que parece, no âmbito familiar e chega a trazer certo quê de pejorativo”, o autor já não tenta mais se justificar com alguma lógica vinculada à origem latina; apenas emite um mero juízo de valor: “ao que parece”, “está no âmbito familiar” e tem “quê de pejorativo”, afirmações facilmente contestadas ao se observar o uso e o registro do vocábulo em documentos de tribunais de Justiça e artigos de jornais (conforme constatamos anteriormente). O mais estranho é ver o mesmo autor que condena essa variação feminina declarar o seguinte em sua Gramática Metódica da Língua Portuguesa:

A questão do gênero dos substantivos não pára nas normas vistas nos parágrafos anteriores; outros fatos há, particulares, que necessitam ser estudados isoladamente. O uso, fator soberano da consolidação do fator de uma língua e das leis que a regem, consagra certas formas que, embora esquisitas, tornam-se comuns e de emprego cotidiano na boca do povo. É o que se passa, em português, com o gênero de certos substantivos. São fatos que, adstritos a pequeno número de palavras, denominam-se particularidades genéricas (1999, p. 101-102, grifo nosso).

Ora, é no mínimo contraditório que um gramático reconheça tais “particularidades” e, ao mesmo tempo, condene uma dessas mesmas particularidades: Napoleão normaliza, em sua gramática, as formas de feminino parenta, giganta, infanta e elefanta (exceções à regra da “uniformidade” sufixal de -nte da mesmíssima forma que presidenta). Por quê? Até que tentou explicar isso, como vimos acima: “alguns dos adjetivos de tal terminação andam a ser flexionados em nta no feminino quando substantivados”. Ou seja, ele admite exceções à tal uniformidade, mas não aceita o (também substantivado) presidenta como exceção por pura arbitrariedade: “Presidenta, porém, ainda está, ao que parece, no âmbito familiar e chega a trazer certo quê de pejorativo”. Notem a hesitação: “... ainda está, ao que parece...”; reparem a tentativa de explicação vaga, indefinida, imprecisa: “chega a trazer certo quê de pejorativo”. Aqui, fica evidente a total falta de objetividade do gramático.

Não se condena um sufixo apenas por ser pouco frequente na língua

Pesa o fato de a variante sufixal -nta ter baixa produtividade na língua portuguesa, o que pode provocar indisposição entre os que se apegam à aparente regularidade do sufixo -nte. No caso de presidenta, nada se pode fazer contra o uso de uma forma já dicionarizada, oficializada (VOLP) e normalizada gramaticalmente, enterrando de vez o argumento dos que tomam a palavra como errada alegando “não soar bem aos ouvidos”, ter sentido “pejorativo” ou que seja “feia, deselegante”, além de outros pretextos puristas.
Podemos compreender essa indisposição? Sim. Pura falta de costume: a primeira ocorrência da palavra data de mais de um século, mas seu uso esteve, como vimos acima, restrito durante muito tempo ao discurso de algumas áreas profissionais e de determinados gêneros textuais (documentos do Poder Judiciário, textos jornalísticos, obras literárias etc), não tendo alcançado utilização tão ampla quanto agora, momento em que o país tem, pela primeira vez, uma mulher eleita para a presidência da República. E se, conforme bem observou Luft no já citado ABC da Língua Culta, “já houve época em que puristas não toleravam o substantivo feminino parenta” (p. 333), estou certo, meus amigos, de que no futuro algum autor comentará a mesmííííssima coisa sobre presidenta.


[1] “Não estariam, entretanto, grandemente convencidos os quinhentistas da correção desta linguagem se já hesitavam entre infante e infantacomo facilmente se vê na Crônica de D. Manuel por Damião de Góis. A forma infantatornou-se, contudo, a preferida por [Padre Antônio] Vieira e outros, e prevaleceu” (SAID ALI, 1964, p.62).
[2] Pasquale Cipro Neto afirmou, na edição de 02/01/2011 desse jornal,  que “o uso da forma ‘presidenta’ causa estranheza aos leitores”. No entanto, em seu CD-ROM Pasquale Explica, afirma: “Existe feminino de presidente? Existe, e não existe. Quem manda é o cliente: pode-se dizer ‘a presidente’ ou ‘a presidenta’; é indiferente”.

35 comentários:

  1. Davi, mais uma vez um texto em seu Blog que me enche de entusiasmo. Acho brilhante o modo como, para discordar de uma norma supostamente culta, seu estofo linguístico não o impede de usar do "próprio veneno" disseminado pelos puristas. Napoleão, Bechara, VOLP, Matos e Silva, Houaiss e Marcos Bagno juntos, não é para qualquer um.
    Meus parabéns, meu caro!

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  2. Discordo. Discordo de tudo. Não fui eu.

    Eu nego.


    Muito bom o post. o/

    Daqui uns 2 anos você pode imprimir todos os seus posts e fazer um volume encadernado.

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  3. Trata-se, creio, de uma resistência natural à deliberada afirmação de gênero imposta a partir do momento em que a presidenta prefere assim ser chamada, optando por uma forma legítima, mas menos usada, gerando estranhamento e, assim, chamando a atenção dos leitores para o peso desse "A" final, afinal.

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  4. Tentativa de justificar o injustificável...É defesa similar ao reforma ortográfica, desnecessária e sem fundamento, já que busca argumentação mais em história do que no Português que é vítima de ataques há mais de 10 anos pelas altas cortes do Executivo.

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    1. Anônimo,

      Contra fatos já abonados e reconhecidos (e que viraram REGRAS) não há argumentos. Aliás, que argumentos você apresenta ao afirmar que isso é uma "tentativa de justificar o injustificável"?... Fundamentado em quê? Falar (qualquer coisa) é fácil.

      Repito, porque parece que você leu mas não entendeu: as normas gramaticais dão "presidenta" como correta. Ela é registrada como palavra oficial da língua portuguesa (VOLP). Seu uso está normalizado, dicionarizado e — excetuando seu gosto pessoal — não há NADA que você possa usar para contestar isso. Só ficar inconformado, porque qualquer pessoa bem-informada pode pegar essas obras de referência e jogar na tua cara, sempre que você tentar contestá-las. Chato, né?

      "já que busca argumentação mais em história do que no Português"

      Isso mostra o quanto você não sabe o que está falando e não enxerga a realidade das coisas. A história em questão, discutida no artigo, nada mais é do que a própria história do Português. É impraticável "separar" uma coisa da outra, como se "Português" como se uma disciplina FIXA e IMUTÁVEL desde sempre. A história aqui apresentada (que você pretende distinguir) é a história da evolução do português, de suas transformações, de sua mudança. Você fala o português de Camões? Ora, você não deve falar nem o mesmo português de seu avô ou de seu pai! E qualquer pessoa não muito estúpida e com um pouquinho de esclarecimento dá conta perfeitamente de compreender isso.

      Outra: como minha argumentação "busca mais em História do que no Português" se eu apresentei várias das principais gramáticas do país abonando a forma "presidenta"? Percebe o quanto você NÃO sabe o que está falando?

      Agora, se depois de tudo o que você leu no artigo acima, você ainda vem dizer que isso é "justificar o injustificável", isso só mostra o quanto você é teimoso como um burro. Só precisa deixar o orgulho de lado e dar a você mesmo a oportunidade de ler e estudar mais a respeito (de preferência Linguística). Pode começar com bons dicionários. Neles, estão lá, para a sua indignação: "presidenta". ;-)

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    2. "Tentativa de justificar o injustificável...É defesa similar ao reforma ortográfica, desnecessária e sem fundamento, já que busca argumentação mais em história do que no Português". Engraçado. Acho que vc nem leu o texto Claro que a argumentação se faz no perspectiva histórica. Mas Histórica da lingua. De sua estruturação.Há utilização constante da morfologia. E também da "participação" de vários nomes consideráveis nessa questão. Fundamentação é o que não falta. Gramaticalmente ao longo da História da lingua.

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    3. Ok, se entendi o que traz o artigo, PresitentA está correto, então é correto usar o termo PresidentO?
      Sendo assim, a palavra discutida deixa de ser uma palavra comum de dois gêneros?
      Não sou nenhum expert em língua portuguesa, somente quero entender!
      Obrigado.

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    4. Gustavo, você NÃO leu o artigo. Leia e entenderá.

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  5. Ótimo artigo. Achei excelente citar o uso por Machado de Assis e jornais como Folha de S. Paulo, o Estado de S. Paulo, etc. Só senti falta de referência bibliográficas mais precisas: página, edição, do livor de Machado e data ou link das citações de notícias com o termo "presidenta". Mas com certeza o termo é gramaticalmente válido e só passou a ser criticado porque as pessoas não percebem a importância de se valorizar o gênero quando as mulheres, geralmente excluídas, ocupam cargos de poder. Mas há controvérsias que, embora em nada desmereçam a riqueza do artigo acima, merecem ser consideradas. (ver: http://revistalingua.uol.com.br/textos/62/artigo248988-1.asp )

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  6. Adorei o seu post! Muito didático, e lhe peço permissão para compartilhar

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  7. Faltou malemolência. E, sim, há controvérsias.

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  8. Olá! Excelente artigo! Após um extenso trabalho de pesquisa bibliográfica, também encontramos outras dúzias de evidências do uso de "presidenta" em dicionários, vocabulários e veículos de imprensa portugueses e brasileiros desde o século retrasado. Mais que isso, comprovamos que "PRESIDENTA" é muito mais antiga e mais tradicional em português que "A PRESIDENTE": http://www.dicionarioegramatica.com.br/2016/05/02/presidenta-e-mais-antigo-e-tradicional-em-portugues-do-que-a-presidente/

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    1. Sim, eu também fiz essa pesquisa e também cheguei à mesma conclusão: O uso de "presidenta" no século XIX é maior, mais polissêmico e mais antigo do que se supõe >> http://discordiagramatical.blogspot.com.br/2016/01/uso-de-presidenta-no-seculo-xix-e-maior.html

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  9. Davi, podemos hoje passar a utilizar o sufixo nta para os adjetivos e substantivos terminados com e, como clienta, gerenta, cienta? Mesmo não sendo comum. Faço a pergunta sem nenhuma conotação a não ser a da dúvida mesmo. Obrigado. Tiago

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    1. Olá, Thiago.

      Poder, a gente pode tudo; uma coisa é fazer uso isolado, como em textos pessoais, literários ou na língua falada, como gírias; outra é ver isso sendo aceito pela norma culta.

      Qualquer forma na língua se torna correta, formal a partir após seu USO se consolidar na língua culta. Quando os gramáticos constatam que o USO de uma determinada palavra, expressão, locução ou construção sintática se consagrou na língua escrita culta, em textos literários, oficiais, técnicos etc., caso tais palavras ou construções não contrariem nenhum princípio morfológico ou sintático, podem ser aprovados e passarem a ser prescritos por esses autores.

      Assim, a flexão de "presidente" para "presidenta" se tornou correta após todo um percurso efetuado por seu uso, que foi sendo detectado não apenas em textos literários, mas jornalísticos e oficiais (tal como nos exemplos citados neste artigo). Como não há princípios morfológicos que impeçam tal flexão (e o que foi exposto acima também demonstra) isso, os gramáticos passaram a admitir tal forma como correta, dando seu aval para algo que já se encontrava no uso culto.

      Para sairmos um pouco da flexão e darmos outros exemplos análogos em outros casos gramáticos (como conjugação verbal), confira este artigo sobre verbos defectivos: http://discordiagramatical.blogspot.com.br/2012/09/e-gramatica-que-se-exploda.html. Aqui, eu cito um autor que diz:

      "[...] foi o uso que não consagrou certas formas, as quais, nunca tendo sido vistas ou ouvidas, são espontaneamente evitadas pelos que procuram falar corretamente" (Otelo Reis).

      Depois outro autor diz:

      "Muitos verbos apontados outrora como defectivos são hoje conjugados integralmente: agir, advir, compelir, desmedir-se, discernir, embair, emergir,imergir, fruir, polir, prazer, submergir. Ressarcir e refulgir (que alguns gramáticos só mandam conjugar nas formas em que o radical é seguido de e ou i) tendem a ser empregados como verbos completos" (Bechara).

      Finalmente, confira este aqui:

      "A morfologia não tem leis especiais para excluir de sua formação total nenhum dos verbos que se têm por defectivos. Nenhuma lei de estrutura se opõe a que se forme abole,colorem, pule, bane, demulo. Empregá-los numa forma e deixar de empregá-los noutra é coisa que toca ao uso." (Mário Barreto)

      Percebeu que formas defectivas outrora condenadas são usuais, cultas e até corretas hoje? Consegue perceber que o certo, o correto é tão somente uma convenção para a padronização do vernáculo, e que o que era estranho, inexistente ou não usual no passado pode se tornar correto hoje, dependendo do uso (adequado, que não fira princípios morfológicos ou sintáticos) que se consolida na língua culta?

      Não flexionamos "cliente", "gerente" e "ciente" para "clienta", "gerenta" e "cienta" tão somente porque não existe nenhum uso consolidado de tais flexões na língua culta. Não há nenhum emprego percentual de peso na língua para essas flexões. É a língua, como fenômeno social e cultural, que aprova, consagra e recusa as formas propostas. SE por acaso isso um dia ocorresse, os gramáticos poderiam aboná-las. Espero ter esclarecido sua dúvida!

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  10. Acho impressionante que alguém que se julga estudioso da língua portuguesa confunda "aceitação por uso recorrente" com gramaticalmente aceito. Você fez um texto enorme confirmando o que grandes estudiosos de fato já haviam dito, mas confunde conceitos básicos de linguistica e formação gramatical. Pior, ainda passa vergonha ficando putinho quando alguém tenta te explicar isso, a nítida impressão que eu tenho é que você é tão ciente de si e tão prepotente que perdeu a capacidade de assimilar conceitos diferentes do que você toma como verdade. Você pode apresentar 500 usos históricos, e a aceitação do termo nos dicionários devido a esses usos. Enquanto não for alterada a regra, num possível novo acordo ortografico da língua portuguesa o uso é gramaticalmente errado e fim de papo. O que me choca é alguém que não consegue diferenciar aceitação por uso de de gramaticalmente correto, se achar estudioso da língua. São universitários e "estudiosos" feito você que as nossas universidades estão formando. Eu temo pelo futuro desse país

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    1. Alberto,


      Quando você diz "Enquanto não for alterada a regra, num possível novo acordo ortográfico da língua portuguesa o uso é gramaticalmente errado e fim de papo", você demonstra que NÃO leu o artigo ou fingiu que leu. Se leu, não entendeu; se entendeu, preferiu manter-se cínico.

      "Enquanto não for alterada a regra"?

      Desde sua primeiríssima edição (1963), a Moderna Gramática Portuguesa de Evanildo Bechara já registrava e abonava essa forma feminina:

      Podemos distinguir, na manifestação do feminino, os seguintes processos [...] com a mudança ou acréscimo ao radical, suprimindo a vogal temática [...] Os [terminados] em –e uns há que ficam invariáveis, outros acrescentam –a depois de suprir a vogal temática: alfaiate à alfaiat(e) + a à alfaiata.

      Variam:

      alfaiate – alfaiata
      infante – infanta
      governante – governanta
      presidente – PRESIDENTA
      parente – parenta
      monge – monja
      (p. 84, grifo nosso)

      Celso Pedro Luft, em seu Dicionário Gramatical da Língua Portuguesa (1966), ensina que “os substantivos terminados em e são geralmente uniformes (…); há, porém, alguns que trocam o e por a: elefante – elefanta; governante – governanta; infante – infanta;[...] ; parente – parenta; mais raros: [...] giganta; hóspeda; presidenta; alfaiata. Em ABC da Língua Culta, o autor reafirma: “[...]substantivo que se pode tomar como comum de dois gêneros (sexo) para ‘pessoa que preside’: o presidente, a presidente; mas também comporta feminização flexional: a PRESIDENTA”
      .
      Rocha Lima (2007), em sua Gramática Normativa da Língua Portuguesa, reconhece: “a força do uso já consagrou as formas flexionadas infanta, parenta e PRESIDENTA” (p. 73).

      Cegalla (2008) diz o seguinte em seu Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa: “É forma dicionarizada e correta, ao lado de presidente. A PRESIDENTA da Nicarágua fez um pronunciamento à Nação. / A presidente das Filipinas pediu o apoio o apoio do povo para o seu governo (p. 336).

      Sacconi (2005), em seu Dicionário de Dúvidas, Dificuldades e Curiosidades da Língua Portuguesa, também informa a correção da forma "PRESIDENTA".

      Finalmente, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (2009), publicação da ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS que registra todas as palavras em uso oficial na língua portuguesa, legitima a palavra: PRESIDENTA (p. 674).


      Pronto. Os principais e mais conhecidos gramáticos da língua portuguesa registram "presidenta" como correto em suas gramáticas. Basta ler e estudar para se certificar isso. Nem preciso dizer mais nada.


      Aliás, quando você diz "num possível novo acordo ortográfico da língua portuguesa", demonstra ainda mais desconhecimento sobre a área, pois a forma feminina de "presidente" NÃO é uma questão ortográfica e sua transformação em regra gramatical (o que há foi feito há décadas) nunca dependeu e nunca dependerá de acordo ortográfico nenhum.

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    2. Só mais uma coisa que faltou na sua resposta Davi.
      Caro Alberto,
      Putinho é você, chupa aí otário, vai argumentar com seu número limitado de miolos com quem saca das parada, seu mané imbecil?! Seu resto de mijo.
      Obrigada pela atenção.

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  11. Davi, acho que seria interessante você ter citado a lei de Juscelino Kubitschek sobre o uso feminino de formas dicionarizadas e reconhecidas pela tradição gramatical. Está em nota de rodapé da edição atual. No mais, seu texto é muito rico e me trouxe informações importantes.

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  12. Na onda da abordagem de gênero da língua portuguesa, vamos acabar por falar "cavala", em vez de "égua". Ora, parece que o que se quer fazer é uma caça às bruxas às avessas. É evidente que muitas formas são admitidas por dicionários e léxicos diversos. Porém, se formos examinar o léxico da língua portuguesa, nos depararemos com termos esdrúxulos, como "alcantil", que significa "cume", "remocar" (sem cedilha), que significa "censurar". Por que não dizer somente "cume" e "censurar"? Por que buscar referências em obras antigas para sustentar o uso de uma palavra cujo único objetivo é evidenciar a questão do gênero?
    Uma mulher não vai ser diminuída se for designada como "presidente" de uma empresa. Muito menos se for minha "parente". O que interessa é a questão semântica e não uma concordância forçada baseada no uso popular. É sabido que o sufixo "nte" é o que denota condição ou qualidade, cuja aplicação em um radical resulta em um adjetivo ou substantivo como "integrante", "ouvinte" e "refrigerante". O sufixo "nta" resulta em formas verbais ou substantivos femininos, como "minta" (do verbo mentir) e "janta" ou "placenta". Esses dois últimos não admitem a concordância ("janto" ou "placento"), sendo que "janto" é o presente do verbo "jantar", na primeira pessoa do indicativo, não o masculino de "janta".
    Por sua vez, os substantivos terminados em "nte", que definem ambos os sexos (ou gêneros, como queiram) não permitem a concordância para um suposto sufixo "nto". Ou seja, não existe "presidento", "almiranto", "elefanto", "combatento". A razão é muito simples: a letra "e", em nosso idioma, tem um caráter neutro, sendo que, inclusive em nomes próprios, aparece em nomes masculinos e femininos, como "Neide", "Berenice", "Alice", "Alexandre", "Felipe", "Vicente". Entretanto, os nomes terminados em "a" e "o", com raras exceções, identificam respectivamente nomes dos sexos feminino e masculino.
    Dessa forma, quando se defende o uso da palavra "presidenta" ou "parenta" pelo seu uso corrente, se está admitindo uma exceção esdrúxula à regra com fins de legitimar a linguagem popular em detrimento do idioma culto, que é o que se está tratando aqui. Seria como admitir a popular expressão "duzentas gramas de queijo". No idioma alemão, existem diversos dialetos, cujas expressões não constam do chamado alemão gramatical, ou culto. Aqui no Brasil, algumas expressões ou palavras de uso corrente na linguagem popular foram admitidas para que aqueles que defendem o idioma culto não fossem pedantes em demasia.
    Entretanto, variantes do idioma culto não adquirem o "status" de língua oficial somente porque foram toleradas. Se assim fosse, não haveria o debate e muito "menas", ops, menos gente estaria aqui discutindo o assunto.

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    1. "Dessa forma, quando se defende o uso da palavra 'presidenta' ou 'parenta' pelo seu uso corrente, se está admitindo uma exceção esdrúxula à regra com fins de legitimar a linguagem popular em detrimento do idioma culto, que é o que se está tratando aqui."


      Leonardo, ao declarar isso, você demonstra que não leu de fato o artigo; que respondeu ao artigo sem tê-lo lido na íntegra. Se o leu, não o entendeu, não assimilou o conteúdo.

      Eu poderia simplesmente lhe responder recomendando que lesse o artigo completamente, direitinho, de modo a ver seus questionamentos respondidos e refutados. Mas vou responder expondo a contradição das afirmações de seu comentário.

      "Por que buscar referências em obras antigas para sustentar o uso de uma palavra cujo único objetivo é evidenciar a questão do gênero?"

      Porque "buscar referências em obras antigas" faz parte do estudo diacrônico, e esse estudo permite esclarecer COMO e POR QUE uma construção morfológica — seja de origem popular e/ou estigmatizada, seja de origem culta — foi se consolidando no idioma culto a ponto de ser abonada pela gramática contemporânea. Muitas palavras, locuções e construções sintáticas anteriormente tidas como erradas na língua culta se tornaram corretas nessa mesmíssima língua culta. A língua não para, e a gramática, de tempos em tempos, é atualizada pelos gramáticos conforme essas transformações que se consolidam no âmbito culto. É algo simples, mas que puristas e pessoas dotadas de mentalidades enrijecidas por critérios logicistas (que acreditam que a língua só obedece a critérios de correção exclusivamente baseados numa pretensa lógica rígida) demonstram dificuldade de (ou má vontade e indisposição para) entender.

      Não seria possível simplesmente escrever um artigo indicando o que as gramáticas dizem a respeito de "presidenta"? SIM, sem dúvida. Mas a proposta do blog sempre foi dissecar a questão envolvendo uma palavra ou construção gramatical desde seus primórdios, de modo que se tenha o mais amplo e completo entendimento do processo de normatização (ou normalização) de uma palavra. Daí a busca de referências em obras antigas.


      "sustentar uma palavra cujo único objetivo é evidenciar a questão do gênero"

      Você fala como se a palavra tivesse que ser NECESSARIAMENTE desconsiderada / descartada tão somente porque existe a possibilidade de se referir ao feminino "a presidente". Ora, há INÚMERAS formas FACULTATIVAS no português, permitindo duas ou mais formas corretas de se dizer algo, e não vejo ninguém criando caso contra elas nem apresentando motivo para questioná-las. Reclamar das e contestar as formas facultadas é como reduzir o critério de correção gramatical ao seu subjetivo e arbitrário gosto pessoal.

      Entre os que refutam "presidenta", parece haver a mentalidade segundo a qual essa palavra foi inventada (e, pior ainda, no meio popular) de forma artificial por uma causa exclusivamente militante e ideológica (no caso, o movimento feminista). Ora, ela surgiu e se consolidou MUITO ANTES de ser reivindicada pela primeira mulher a alcançar o cargo de presidência da república em 2010. E, muito antes dela, diversas mulheres (como juízas e diretoras de empresas, mulheres do segmento CULTO da sociedade) já se intitulavam assim (algo que você teria constatado se tivesse atentando para diversas passagens do artigo acima). E qual é o problema de o "objetivo" da palavra ser evidenciar o gênero, se há tantas palavras com essa mesma função na língua? Esse seu questionamento não tem nenhuma razão de ser.


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    2. "Uma mulher não vai ser diminuída se for designada como 'presidente' de uma empresa."

      E tampouco a gramática será diminuída se essa mulher escolher ser chamada de "presidenta", já que a norma culta lhe FACULTA esse uso (a presidente OU a presidenta).


      "legitimar a linguagem popular"???

      "Presidenta" NÃO veio da linguagem popular, meu caro. NÃO foi concebida por segmentos populares. Surgiu na escrita culta e se consolidou nela. Se você tivesse atentando direitinho para os fatos que mencionei, já estaria sabendo disso.


      "exceção esdrúxula à regra"???

      No artigo, NÃO se defendeu o uso da palavra "presidenta" apenas "pelo seu uso corrente". Não se tentou legimitá-la como exceção a fim de torná-la regra gramatical, pois isso JÁ É uma regra gramatical. Na verdade, o que foi feito principalmente no artigo foi demonstrar que a forma é consagradamente correta há DÉCADAS pelos principais gramáticos do português.

      Desde sua primeiríssima edição (1963), a Moderna Gramática Portuguesa de Evanildo Bechara já registrava e abonava essa forma feminina:

      Podemos distinguir, na manifestação do feminino, os seguintes processos [...] com a mudança ou acréscimo ao radical, suprimindo a vogal temática [...] Os [terminados] em –e uns há que ficam invariáveis, outros acrescentam –a depois de suprir a vogal temática: alfaiate à alfaiat(e) + a à alfaiata.

      Variam:

      alfaiate – alfaiata
      infante – infanta
      governante – governanta
      presidente – PRESIDENTA
      parente – parenta
      monge – monja
      (p. 84, grifo nosso)

      Celso Pedro Luft, em seu Dicionário Gramatical da Língua Portuguesa (1966), ensina que “os substantivos terminados em e são geralmente uniformes (…); há, porém, alguns que trocam o e por a: elefante – elefanta; governante – governanta; infante – infanta;[...] ; parente – parenta; mais raros: [...] giganta; hóspeda; presidenta; alfaiata. Em ABC da Língua Culta, o autor reafirma: “[...]substantivo que se pode tomar como comum de dois gêneros (sexo) para ‘pessoa que preside’: o presidente, a presidente; mas também comporta feminização flexional: a PRESIDENTA”
      .
      Rocha Lima (2007), em sua Gramática Normativa da Língua Portuguesa, reconhece: “a força do uso já consagrou as formas flexionadas infanta, parenta e PRESIDENTA” (p. 73).

      Cegalla (2008) diz o seguinte em seu Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa: “É forma dicionarizada e correta, ao lado de presidente. A PRESIDENTA da Nicarágua fez um pronunciamento à Nação. / A presidente das Filipinas pediu o apoio o apoio do povo para o seu governo (p. 336).

      Sacconi (2005), em seu Dicionário de Dúvidas, Dificuldades e Curiosidades da Língua Portuguesa, também informa a correção da forma "PRESIDENTA".

      Finalmente, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (2009), publicação da ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS que registra todas as palavras em uso OFICIAL na língua portuguesa, legitima a palavra: PRESIDENTA (p. 674).

      "Presidenta" é forma correta de acordo com a norma culta. HÁ TEMPOS. Isso é um FATO gramatical. Ninguém aqui está pleiteando que a palavra "presidenta" seja "tolerada" de modo a fazer parte do idioma culto: ela JÁ faz parte dele há muito tempo, e só quem não consultou devidamente gramáticas (o que não é nenhum pecado, já que ninguém nasce sabendo nem é obrigado a saber de tudo) é que (ainda) ignora isso.

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    3. Governanta não é feminino de governante!
      Governante é quem governa e Governanta é que administra uma casa !! Senhor Davi!

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    4. Presidenta é a forma correta porque alguns querem que seja assim!!

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    5. "Presidenta é a forma correta porque alguns querem que seja assim!!"

      Não. Não é porque alguns querem. É porque isso já se encontra devidamente abonado pela norma culta. E se você tivesse realmente lido o artigo e conferido todas as referências indicadas, saberia que Bechara, Luft, Cegalla, Sacconi, Rocha Lima e a Academia Brasileira de Letras registram "presidenta" como correta. Viu só? Não é forma correta apenas porque "alguns querem que seja assim". ;-)

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    6. Senhora Nancy, preste bastante atenção àquilo que você lê. Em qual ponto de meu artigo, EU afirmei que "governanta é feminino de governante"? Apenas transcrevi citações literais de gramáticos e dicionaristas. Vou repetir os trechos mencionados aqui, já que você não prestou atenção neles:

      Antônio Houaiss (2001) diz que governanta foi originado em 1881 por influência do feminino do francês gouvernante. Consulte-o.


      Evanildo Bechara (1963) diz:

      "Variam:

      alfaiate – alfaiata
      infante – infanta
      governante – GOVERNANTA
      presidente – presidenta
      parente – parenta
      monge – monja"

      Celso Luft (1966) ensina que “os substantivos terminados em e são geralmente uniformes (…); há, porém, alguns que trocam o e por a: elefante – elefanta; governante – GOVERNANTA;

      Napoleão Mendes de Almeida (1981):

      "Alguns dos adjetivos de terminação -nte andam a ser flexionados em -nta no feminino quando substantivados: parenta, infanta, GOVERNANTA."


      Achou ruim? Discorda deles? Leve sua queixa a eles, senhora Nancy.

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  13. Prezado Davi. Bom artigo, mas necessárias observações:

    1. Seria interessante a exposição das referências (edições das obras, datas das publicações etc);

    2. Considerar latim língua morta não demonstra arbitrariedade no seu discurso? Afinal, se há evolução no português, excluiremos a evolução latina? Iclusive ao português e sua aceitação formal na consagração de sulfixo derivados do -nte?

    3. Se são corretas as várias formas, determinar por lei a derivação obrigatória do "a" não enseja efeito "novilíngua", já que o -nte é muito mais popular e usual? Se a língua é livre e merece evolução, o absurdo talvez não seja a imposição do Estado e não social de que a grafia correta é "assim ou assado"?

    4. Não parece a você que o -nta talvez seja muito mais uma imposição da própria norma culta frente a utilização mais comum do -nte? Afinal, a tradição literária e a sua utilização em uma sociedade linguística que se absteve quase totalmente afastada das letras (sem querer afastar de conceitos sociais aplicáveis à mesma como misoginia, machismo etc) tomar conhecimento efetivo da existência de sulfixo alternativo para a consideração de "quem dirige" talvez transpareça a naturalidade social da própria utilização do -nte mais à do -nta.

    Sendo assim, não podemos descartar a posição de Napoleão. Afinal, talvez soe muito natural que um literato, homem, dos idos novecentistas também seja irônico em um termo, ao mencionar que uma mulher exerça um cargo de liderança.

    Portanto, a resistência social, geradora de toda essa discussão talvez seja mais pela imposição do estado de obrigar a aceitação do -nta, frente ao -nte (também lógico e correto, afinal somos um ramo da evolução do latim, e não seu enterro), e não podemos negar da inferência histórica limitada do surgimento de sulfixo que, a algumas palavras, pode ensejar mais uma deturpação pejorativa que necessariamente um uso correto. Afinal, literatura Machadiana, p. e., esperemos sempre uma ironia, e, do homem mercantilista, imperial, esperemos sempre, como que presunção relativa, o detrimento da mulher no seu papel social.

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    1. "Seria interessante a exposição das referências (edições das obras, datas das publicações etc)"


      Ora, as referências estão todas no artigo: título, autor, ano e página. Passando-se o cursor do mouse sobre os títulos, é possível clicar num hyperlink que leva o leitor à obra referida. O que mais é necessário? Não há nenhuma necessidade de isso contar com referências formatadas de acordo as normas da ABNT, já que isso não é um trabalho acadêmico.



      "Considerar latim língua morta não demonstra arbitrariedade no seu discurso? Afinal, se há evolução no português, excluiremos a evolução latina? Iclusive ao português e sua aceitação formal na consagração de sulfixo derivados do -nte?"


      A parte do meu artigo que se inicia em "De onde vem essa obsessão napoleônica..." já explica devidamente isso. No entanto, já que você insiste em questionar isso, vamos lá:

      "Arbitrariedade"? Ora, mas não se tratar de "considerar", mas tão somente de "constatar": o latim É uma língua morta. Todavia, isso não é nenhum problema, pois, ainda que concordemos em considerá-la "viva", a "evolução latina" a que você se refere é uma coisa; a "evolução do português", outra. E essa última pode, em vários casos, distanciar-se e se distinguir cada vez mais da língua que lhe deu origem.

      Essa necessidade que certos eruditos tinham/têm de querer exigir do português uma subordinação ao latim (e que se reflete em questionamentos como esse que você faz) é uma herança da (re)latinização como critério de correção (século XVI), ocasião em que gramáticos de várias línguas europeias escreveram obras para mostrar que seus idiomas não só não ficavam sujeitos a quaisquer regras, tornando-os, em alguns casos, o mais semelhantes possível às regras do latim, considerada um exemplo magno de "regularidade":


      "A equiparação de 'regularidade' com as regras do latim se tornou cada vez mais explícita ao longo do século XVI, de modo que as gramáticas mais tardias dos vernáculos são em geral mais ARTIFICIALMENTE CONSTRANGIDAS pelo MODELO LATINO do que as anteriores — um exemplo da tradição universal ultrapassando a particular, em detrimento desta" ("História concisa da linguística", Barbara Weedwood, p. 73).

      É a João de Barros, um dos primeiros gramáticos do português, a quem se devem as primeiras defesas fervorosas, por parte de um gramático, da vinculação do português ao latim. Barros sempre apelava para que seus conterrâneos realizassem o estudo da língua a partir da imitação dos clássicos latinos, diferente outros gramáticos pioneiros, como Fernão de Oliveira, que não concebeu uma obra alinhada com as categorias do latim.

      Napoleão Mendes de Almeida seguiu a "joão-de-barros-way-of-life", cuja estratégia discursiva é: "Se para o latim é X, então para o português também é X". Ninguém nega a herança, a influência e a importância do latim como língua-mãe, mas você não vê os demais gramáticos levando essa vinculação do português ao latim a uma inflexível e rígida subordinação. Não ao ponto de deixar de compreender, aceitar e abonar flexões e exceções estranhas a uma língua que não é a nossa. Eis aqui uma "evolução" própria do português e que satisfação nenhuma deve ao latim.

      Ainda que listemos todas as morfologias e sintaxes do latim que de alguma forma se mantenham refletidas e presentes na estrutura do português, isso em nada determina, necessariamente, a obediência do português a uma rigidez estrutural que não faz mais parte de sua própria natureza.

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    2. "Se são corretas as várias formas, determinar por lei a derivação obrigatória do 'a' não enseja efeito 'novilíngua', já que o -nte é muito mais popular e usual? Se a língua é livre e merece evolução, o absurdo talvez não seja a imposição do Estado e não social de que a grafia correta é 'assim ou assado'?"

      Eu não trato dessa questão no artigo, mas vamos lá: primeiramente, é um grande exagero falar em "efeito novilíngua". E você fala em "derivação obrigatória do a" como se tal flexão fosse um absurdo na língua, quando é tão somente uma forma justa (além de abonada e correta) de indicar o gênero da pessoa: "As instituições de ensino públicas e privadas expedirão diplomas e certificados com a flexão de gênero correspondente ao sexo da pessoa diplomada" (Art. 1º). Qual é o problema de indicar, por exemplo, uma mulher como "mestra" em vez de "mestre"? No que isso incomoda ou oprime você?

      Vale observar que, quase 60 ANOS antes de Dilma, uma lei assinada por Juscelino Kubitschek estabeleceu o uso de gênero feminino para qualquer cargo político caso a forma seja abonada pela gramática:

      "O gênero gramatical dêsse nome, em seu natural acolhimento ao sexo do funcionário a quem se refira, tem que obedecer aos tradicionais preceitos pertinentes ao assunto e consagrados na lexeologia do idioma. Devem portanto, acompanhá-lo neste particular, SE FOREM GENERICAMENTE VARIÁVEIS, assumindo, conforme o caso, eleição masculina ou feminina, quaisquer adjetivos ou expressões pronominais sintàticamente relacionadas com o dito nome".

      http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1950-1959/lei-2749-2-abril-1956-355226-publicacaooriginal-1-pl.html

      E talvez essa lei de 1956 só não tenha sido notada antes porque só recentemente as mulheres têm realmente, cada vez mais, ocupado cargos de relevância política.

      Não vejo, portanto, problema nenhum nisso. Aliás, esse seu questionamento não cabe aqui, pois em meu artigo eu não trato em nenhum momento dessa lei, mas apenas da questão gramatical em torno da correção de "presidenta".


      "Não parece a você que o -nta talvez seja muito mais uma imposição da própria norma culta frente a utilização mais comum do -nte? Afinal, a tradição literária e a sua utilização em uma sociedade linguística que se absteve quase totalmente afastada das letras (sem querer afastar de conceitos sociais aplicáveis à mesma como misoginia, machismo etc) tomar conhecimento efetivo da existência de sulfixo alternativo para a consideração de 'quem dirige' talvez transpareça a naturalidade social da própria utilização do -nte mais à do -nta."

      "Imposição da própria norma culta"??? Os gramáticos não elaboram regras do nada. O que eles fazem é detectar a regularidade de uma forma que se consolida na língua culta e aboná-la caso ela não apresente nenhuma violação aos princípios morfológicos ou sintáticos do idioma. Ora, se algo se torna correto e registrado em gramática tão somente porque a língua culta assim o consagrou, como poderíamos falar em "imposição"? Pelo contrário, a "imposição", meu caro, vai se dar justamente quando um gramático ou outro tipo de autor tenta, a todo custo, resistir à consolidação de uma forma culta na língua, impondo-a como "errada", quando seus colegas já a reconhecem como correta. Você tentou inverter a situação...

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    3. "Sendo assim, não podemos descartar a posição de Napoleão."

      Podemos sim, pelos motivos já devidamente expostos no artigo. Aliás, você concorda então a correção que ele dá para "pareNTA"? Pois é: ele diz que "parenta" é correto. Todos os demais gramáticos abonam "presidenta" como correta. Por mais que você discorde da correção e/ou não goste de usar a forma, ninguém vai voltar atrás no tempo para manter uma postura conservadora por mera arbitrariedade de um gramático que declarava abertamente seu total e absoluto desprezo pela Linguística:

      https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/controversias/linguistica-um-estorvo-a-aprendizagem-da-lingua-portuguesa/769


      "Afinal, talvez soe muito natural que um literato, homem, dos idos novecentistas também seja irônico em um termo, ao mencionar que uma mulher exerça um cargo de liderança."

      "Afinal, literatura Machadiana, p. e., esperemos sempre uma ironia, e, do homem mercantilista, imperial, esperemos sempre, como que presunção relativa, o detrimento da mulher no seu papel social."

      Não podemos reduzir isso à menção literária que Machado faz de "presidenta". Ele não inventou isso no português; apenas reproduziu um termo em uso na língua. Bem ANTES de Machado de Assis, o uso de "presidenta" já era maior, mais polissêmico e mais antigo do que se supõe:

      http://discordiagramatical.blogspot.com.br/2016/01/uso-de-presidenta-no-seculo-xix-e-maior.html

      E mesmo que consideremos que Machado de Assis tenha feito tal menção exclusivamente de forma irônica, isso não conta para invalidar o sentido legítimo que a palavra adquiriu com o passar do tempo e tem HOJE, mais de um século depois.

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  14. Se continuarmos assim, logo logo será correto dizer "a gente fomos", "nóis foi", pois a falta de esclarecimento e cultura do nosso povo faz com ouçamos cada vez mais falas com erros crassos de português e por tanto ouvirmos, adotaremos como corretas!!!
    ADEUS REGRAS, PARA QUE SERVEM!

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    1. Se você TIVESSE LIDO o artigo, teria constatado e descoberto que as REGRAS gramaticais que você alega defender dão "presidenta" como CORRETO. Portanto, ou você não leu o artigo ou, se leu, não entendeu (provavelmente, um caso de analfabetismo funcional).

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  15. Nada contra a evolução da língua, fato natural, neologismos que acabam se incorporando, contudo, certas mudanças devem ter lógica para não acabar virando regra.

    Em minha opinião particular, admitir que o substantivo PRESIDENTE (que tem gênero duplo (masculino e feminino) - (terminado em "ENTE") possa ter um derivado para o feminino: PRESIDENTA, então, nasce a possibilidade de existir uma variante para o masculino: PRESIDENTO.

    Nessa lógica, todos os substantivos com sufixo ANTE, ENTE, INTO seriam comprometidos e teríamos uma verdadeira bagunça na língua portuguesa.

    Vamos a alguns exemplos:

    Vigilante: VIGILANTO e VIGILANTA
    Estudante: ESTUDANTO e ESTUDANTA
    Despachante: DESPACHANTO e DESPACHANTA
    Dirigente: DIRIGENTO e DIRIGENTA
    Ajudante: AJUDANTO e AJUDANTA
    Pedinte: PEDINTO e PEDINTA
    Atendente: ATENDENTO e ATENDENTA
    Viajante: VIAJANTO e VIAJANTA
    Comandante: COMANDANTO e COMANDANTA
    Governante: GOVERNANTO e GOVERNANTA (o governanta existe, mas no sentido limitado e discriminatório do gênero, de quem administra uma casa e não de quem governa uma instituição).
    Meliante: MELIANTO e MELIANTA
    Presidente: PRESIDENTO e PRESIDENTA

    vejamos que coisa estranha:


    "A PRESIDENTA era uma ESTUDANTA que virou GOVERNANTA que nomeou uma DIRIGENTA para contratatar um DESPACHANTA para comparar passagens para a DESPACHANTA que consiguiu um emprego de VIGILANTA e nas férias, como VIAJANTA, encontrou com uma ATENDENTA de um hotel e pediu para retirar a MELIANTA que lhes incomodava como PEDINTA."

    Em fim, admitir essa regra é admitir uma bagunça na língua.!!!

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    1. "Nada contra a evolução da língua, fato natural, neologismos que acabam se incorporando"

      Se não há nada contra, então por que você está questionado um fato linguístico já abonado por gramáticos contemporâneos? O que vem depois do "contudo" é pura contradição.

      "Contudo, certas mudanças devem ter lógica para não acabar virando regra."

      Essa "lógica" que você busca não existe da forma que você idealiza. Estudando a língua portuguesa, é possível descobrir INÚMEROS casos hoje consolidados na língua culta que você nem de longe questionaria, mas que não tiveram a lógica que você tanto idealiza.

      "Em minha opinião particular, admitir que o substantivo PRESIDENTE (que tem gênero duplo (masculino e feminino) - (terminado em 'ENTE') possa ter um derivado para o feminino: PRESIDENTA, então, nasce a possibilidade de existir uma variante para o masculino: PRESIDENTO."

      Se você ler o artigo na íntegra, ATENTAMENTE, constatará que isso já foi explicado e devidamente contestado lá. Essa sua argumentação e os exemplos que você traz, além de antigos, rasos e batidos (vários outros já tentaram usá-la exaustivamente), não têm fundamento nenhum. Basta ler atentamente ao artigo e você verá isso.


      "Em fim, admitir essa regra é admitir uma bagunça na língua"

      Tarde demais para reclamar. Aliás, seria inútil tentar questionar isso MESMO antes da consolidação de qualquer fato linguístico. A língua nem sempre e não necessariamente segue regras ou princípios rígidos de lógica. E isso está tão devidamente explicado no artigo acima que nem é preciso me delongar aqui. Leia atentamente o artigo (pois seu comentário indica que você não o leu).

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